Se não sabes o que é fado Sem ter sombra de pecado Sem traições, corações aos baldões e paixões de vielas Se não fazes uma ideia Desta triste melopeia Que nos alegra e por via de regra chorámos com ela Se não sabes como encanta Quem o ouve e quem o canta Quando se agarra a uma guitarra à luz do luar Fado dum fado nascido Um grito de espanto, um gemido Vem ver Lisboa, como ela o entoa e o canta a chorar Fado é amor Que sobrou d’algum queixume Que se agarrou ao ciúme E se embrulhou no seu manto Fado é a dor É o meio termo da vida Nem esperança perdida Nem riso, nem pranto Se não sabes que a tristeza Que nos prende e fica presa Não é mais que os sinais usuais d’alguns ais sem agrado Se não sabes que a saudade Que nos abre e nos invade Só aparece quando não se esquece que também é fado Se não sabes o que é esperança Que não pára, que não cansa E é concerteza, tal como a firmeza, um rasto de fé Sonho dum sonho desfeito O gosto dum gosto perfeito Que nos embala mas que não se iguala ao que o fado é