Sou violeiro caminhando só Por uma estrada, caminhando só Sou uma estrada procurando só Levar o povo pra cidade só Parece um cordão sem ponta Pelo chão desenrolado Rasgando tudo que encontra A terra de lado a lado Estrada de Sul a Norte Eu que passo, penso e peço Notícias de toda sorte De dias que eu não alcanço De noites que eu desconheço De amor, de vida e de morte Eu que já corri o mundo Cavalgando a terra nua Tenho o peito mais profundo E a visão maior que a sua Muita coisa tenho visto Nos lugares onde eu passo Mas cantando, agora insisto Neste aviso que ora faço Não existe um só compasso Pra contar o que eu assisto Trago comigo uma viola só Para dizer uma palavra só Para cantar o meu caminho só Porque sozinho vou à pé e pó Guarde sempre na lembrança Que essa estrada não é sua Sua vista pouco alcança Mas a terra continua Segue em frente, violeiro Que eu lhe dou a garantia De que alguém passou primeiro Na procura da alegria Pois quem anda noite e dia Sempre encontra um companheiro Minha estrada, meu caminho Me responda de repente Se eu aqui não vou sozinho Quem vai lá na minha frente? Tanta gente, tão ligeiro Que eu até perdi a conta Mas lhe afirmo, violeiro Fora a dor que a dor não conta Fora a morte quando encontra Vai na frente o povo inteiro Sou uma estrada procurando só Levar o povo pra cidade só Se meu destino é ter um rumo só Choro em meu pranto é pau, é pedra, é pó Se esse rumo assim foi feito Sem aprumo e sem destino Saio fora desse leito Desafio e desafino Mudo a sorte do meu canto Mudo o Norte dessa estrada Em meu povo não há Santo Não há força, não há forte Não há morte, não há nada Que me faça sofrer tanto Vai, violeiro, me leva pra outro lugar Que eu também quero um dia poder levar Tanta gente que virá Caminhando, procurando Na certeza de encontrar