O que será, que será? Que andam suspirando pêlas alcovas? Que andam sussurrando em versos e trovas? Que andam combinando no bréu das tocas? Que anda nas cabeças, anda nas bocas? Que andam ascendendo velas nos becos? Que estão falando alto pelos botecos? E gritam nos mercados Que com certeza Está na natureza Será, que será O que não tem certeza Nem nunca terá O que não tem conserto Nem nunca terá O que não tem tamanho O que será, que será? Que vive nas idéias desses amantes? Que cantam os poetas mais delirantes? Que juram os profetas embriagados? Está na romaria dos mutilados? Está na fantasia dos infelizes? Está no dia a dia das meretrizes? No plano dos bandidos Dos desvalidos? Em todos os sentidos Será, que será O que não tem descência Nem nunca terá O que não tem censura Nem nunca terá O que não faz sentido O que será, que será? Que todos os avisos não vão evitar? Por que todos os risos vão desafiar? Por que todos os sinos irão repicar? Por que todos os hinos irão consagrar? E todos os meninos vão desembestar? E todos os destinos irão se encontrar? E mesmo o Padre Eterno Que nunca foi lá Olhando aquele inferno Vai abençoar O que não tem governo Nem nunca terá O que não tem vergonha Nem nunca terá O que não tem juízo O que será que me dá Que me queima por dentro, será que me dá Que me perturba o sono, será que me dá Que todos os tremores me vêm agitar Que todos os ardores me vêm atiçar Que todos os suores me vêm encharcar Que todos os meus nervos estão a rogar Que todos os meus órgãos estão a chamar E uma aflição metonha Me faz implorar O que não tem vergonha Nem nunca terá O que não tem governo Nem nunca terá O que não tem juízo