Santa Apolónia arrotava magotes de gente Do seu pobre ventre inchado, sujo e decadente Quando Amélia desceu da carruagem dura e pegajosa Com o coração danificado e a cabeça em polvorosa Na mala o frasco de 'bien-etre' mal vedado E o caderno dos desabafos todo ensopado Amélia apresentava todos os sintomas de quem se dirige Ao lado errado da noite Para trás ficaram uma mãe chorosa e o pai embriagado O pequeno poço dos desejos todo envenenado A nódoa do bagaço naquela farda republicana Que a queria levar pra cama todos os fins de semana E o distinto patrão daquela maldita fundição A quem era muito mais difícil dizer não Amélia transportava todas as visões de quem se dirige Ao lado errado da noite Amélia encontrou Toni numa velha leitaria Entre as bolas de berlim com creme e o sol que arrefecia Ele falou-lhe de um presente bom e de um futuro emocionante E escondeu-lhe tudo o que pudesse parecer decepcionante Mais tarde, no quarto de pensão, chamou-lhe sua mulher Seria ele a orientar o negócio de aluguer Toni tinha todas as qualidades pra ser um rei No lado errado da noite Jonas está agarrado ao seu saxofone A namorada deu-lhe com os pés pelo telefone E ele encontrou inspiração numa notícia de jornal Acerca de uma mulher que foi levada a tribunal Por ter assassinado uma criança recém nascida O juiz era um homem que prezava muito a vida E a pena foi agravada por tudo se ter passado No lado errado da noite