Eu que em comovo Por tudo e por nada Deixei-te parada Na berma da estrada Usei o teu corpo Paguei o teu preço Esqueci o teu nome Limpei-me com o lenço Olhei-te a cintura De pé no alcatrão Levantei-te as saias Deitei-te no banco Num bosque de faias De mala na mão Nem sequer falaste Nem sequer beijaste Nem sequer gemeste Mordeste, abraçaste Quinhentos escudos Foi o que disseste Tinhas quinze anos Dezasseis, dezassete Cheiravas a mato À sopa dos pobres A infância sem quarto A suor a chiclete Saiste do carro Alisando a blusa Espiei da janela Rosto de aguarela Coxa em semifusa Soltei o travão Voltei para casa De chaves na mão Sobrancelha em asa Disse: fiz serão Ao filho e à mulher Repeti a fruta Acabei a ceia Larguei o talher Estendi-me na cama De ouvido à escuta E perna cruzada Que de olhos em chama Só tinha na ideia Teu corpo parado Na berma da estrada Eu que me comovo Por tudo e por nada